segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

INICIANDO O ANO...



ACREDITO QUE ESSE TEXTO NOS INCOMODE UM POUQUINHO... ASSIM ESPERO!!!

EDUCANDO O OLHAR DA OBSERVAÇÃO

APRENDIZAGEM DO OLHAR
Madalena Freire Welfort[1]

            Não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira.
            Para romper esse modelo autoritário, a observação é a ferramenta básica neste aprendizado da construção do olhar sensível e pensante.
            Olhar que envolve ATENÇÃO e PRESENÇA. Atenção que segundo "Simone Weil" é a mais alta forma de generosidade. Atenção que envolve sintonia consigo mesmo, com o grupo. Concentração do olhar inclui escuta de silêncios e ruídos na comunicação.
            O ver e o escutar fazem parte do processo da construção desse olhar. Também não fomos educados para a escuta. Em geral, não ouvimos o que o outro fala; mas sim o que gostaríamos de ouvir. Neste sentido imaginamos o que o outro estaria falando... Não partimos de sua fala; mas de nossa fala interna. Reproduzimos desse modo o monólogo que nos ensinaram.
            O mesmo acontece em relação ao nosso olhar estereotipado, parado, querendo ver só o que nos agrada, o que sabemos, também reproduzindo um olhar de monólogo. Um olhar e uma escuta dessintonizada, alienada da realidade do grupo. Buscando ver e escutar não o grupo (ou o educando) real, mas o que temos na nossa imaginação, fantasia - a criança do livro, o grupo idealizado.
            Ver e ouvir demanda implicação, entrega ao outro.
            Estar aberto para vê-lo e/ou ouvi-lo como é, no que diz, partindo de suas hipóteses, de seu pensar. É buscar a sintonia como o ritmo do outro, do grupo, adequando em harmonia ao nosso.
            Para tanto, também necessitamos estar concentrados com nosso ritmo interno. A ação de olhar e escutar é um sair de si para ver o outro e a realidade segundo seus próprios pontos de vista, segundo sua história.
            Só podemos olhar e sua história se temos conosco mesmo uma abertura de aprendiz que se observa (se estuda) em sua própria história.
            Neste sentido a ação de olhar é um ato de estudar a si próprio, a realidade, o grupo à luz da teoria que nos inspira. Pois sempre "só vejo o que sei" (Jean Piaget). Na ação de se perguntar sobre o que vemos é que nos rompemos com as insuficiências desse saber, e assim, podemos voltar à teoria para ampliar nosso pensamento e nosso olhar.
            Este aprendizado de olhar estudioso, curioso, questionador, pesquisador, envolve ações exercitadas do pensar: o classificar, o selecionar, o ordenar, o comparar, o resumir, para assim poder interpretar os significados lidos. Neste sentido o olhar e a escuta envolvem uma AÇÃO altamente movimentada, reflexiva, estudiosa.
            Neste processo de aprendizagem venho constatando alguns movimentos na sua construção:
            -movimento de concentração para a escuta do próprio ritmo, aquecimento do próprio olhar e registro da pauta para observação. O que se quer observar, que hipóteses se quer checar, o que se intui que não se vê, não se entende, não se sabe qual o significado, etc.;
            - O movimento que se dá no registro das observações, segundo, seguindo  o que cada um se propôs na pauta planejada. Onde o desafio está em sair de si para colher os dados da realidade significativa e não idealizada;
            - O movimento de trazer para dentro de si a realidade observada, registrada, para assim poder pensá-la, interpretá-la. É enquanto reflito sobre o que vi, que a ação de estudar extrapola o patamar anterior. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não sabemos, pois iremos nos defrontar com nossas hipóteses adequadas e inadequadas e construir um planejamento do que falta observar, compreender, estudar.
            Este planejamento aponta para dois movimentos:
            Um, que vai lidar com a construção da nossa pauta de observação segundo os movimentos já mencionados para sua construção. Ou seja, a observação avalia, diagnostica, a zona real do conhecimento para poder, significativamente, lançar (casando conteúdos da matéria com conteúdos do sujeito, da realidade) os desafios da zona proximal do conhecimento a ser explorado.
            Outro que concentra-se devolução (sair de si, outra vez...) para construção de propostas de atividades (enraizadas nas observações feitas para o grupo onde novos desafios  irão ser trabalhados).
            Podemos concluir, portanto, que o ato de observar envolve todos os outros instrumentos: a reflexão, a avaliação e o planejamento; pois todos se entrecruzam no processo dialético de pensar a realidade.


[1] WEFFORT, Madalena Freire et. Al. Educando o olhar da observação. In: WEFFORT, Madalena Freire et. Al. Observação, registro, reflexão. São Paulo, Espaço Pedagógico, 1997, p. 10-36.

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