quarta-feira, 14 de julho de 2010

Viagem ao Colégio Aletheia na Argentina

Para quem ainda não foi, encontrei http://trocandoexperiencias-pense/. um relato  super detalhado sobre a experiência de estar tão perto do que  acontece em Réggio...

Apreciem e se Deus quiser conhecerei pessolamente um dia $$$....

querem!


Viagem de estudo

Buenos Aires

Agosto de 2008

Equipe Pedagógica - Alexsandra, Fátima e Karine.



Conhecer Aletheia é realizar um sonho ou aproximar-se dele, estar o mais próximo possível do que acontece em Reggio foi o maior objetivo nesta viagem de estudos. Visitamos duas escolas bilíngües excelentes com características diferentes, mas com um projeto de trabalho bem definido e funcionando, durante as visitas as crianças fizeram demonstrações de seus trabalhos, falando e cantando em inglês conosco.

Visitamos a Escola Rio de La Plata pela manhã e fomos recebidas pela diretora Mabel Carminati Limongelli, pessoa fantástica receptiva e dona de uma bagagem pedagógica incrível, disposta a socializar saberes forneceu materiais, teias de trabalho em anexo, mostrou sua escola com alegria e dedicação, comentando cada espaço, cada trabalho, fundamentada com projetos e suas evoluções: aplicar, processar e recoletar, inteligências múltiplas para organizar o currículo e biologia da aprendizagem elementos compartilhados com o cérebro durante as estratégias de ensino.

Acreditam que utilizando um fio condutor permite ao aluno uma melhor motivação e associação de conhecimentos possibilitando uma aprendizagem significativa, ou seja, tem um tema central que em 2008 é todos somos artistas – El cenário esta listo, o mesmo tema para bilíngüe e espanhol, o mesmo currículo para bilíngüe e espanhol, e a partir deste tema cada grupo é autor de um projeto especifico.

No Colégio Santa Catarina observamos uma estética tradicional uniformes de gravata e camisa, turmas separadas meninas com meninas, meninos com meninos, cadernos lindos, educação impecável, escola organizada, equipe sintonizada, diretora sabia tudo que estava acontecendo em todos os momentos, crianças caminhando, silencio nos corredores, exigência elevada com a disciplina com direito a anotação no caderninho e tudo. Na educação Infantil cerca de 20 alunos para duas professoras, calmos e centrados na experiência que estavam fazendo.

Chegou o dia do nosso encontro com Aletheia, chegamos cedo e fomos recebidas pela diretora Anna Tomassini, muito carismática e receptiva encaminhou nossas inscrições e logo a porta que dava acesso as salas se abriram, no hall de convivência trabalhos artísticos expostos e as salas com portas e janelas de vidro para que pudéssemos observar sem entrar, cada turma tem a sua sala e dentro dela um atelier básico, com um móvel de secar trabalhos, pia e bancada de trabalho, diversidade de materiais, painéis com trabalhos expostos de formas diferentes pindurados com nylon, colados no alto, no baixo, lisos, texturizados e tridimensionais, fotos das crianças realizando os trabalhos e computador.

Os corredores que levam ao parque mais obra de arte, quadros de argila feito pelas crianças, boneco de pano na sacada superior, banheiro infantil, adulto, pirâmide de vidro, parque de plástico com brinquedos devidamente classificados, cozinha, refeitório, parque de madeira rústica, quadra e um laboratório aconchegante com bancada, tapete e almofadas, mesa de luz, retro projetor, microscópio, livros, pia, decorado com um painel lindo composto de fotos das crianças no laboratório. No andar de cima, biblioteca e as salas das turmas de primário.

Muitos foram os aspectos que emocionaram e impressionaram nesta visita, impressionaram pela criatividade e o valor artístico dos trabalhos, a organização da exposição e a estética das obras, a etiqueta de identificação dos trabalhos tinha a foto da obra, o ano, a turma e o projeto, emocionaram por ser um trabalho tão parecido com a prática que aprecio, a exposição, os trabalhos, as salas, o parque, os brinquedos, as fotos das crianças, os informativos enviados as famílias e o valor que todos davam a tudo aquilo.

O encontro com o Dr Alfredo Hoyuelos abordando a política, a estética no pensamento e obra pedagógica de Loris Malaguzzi foi a teoria, a essência e a forma de olhar as coisas, o mundo dentro da proposta de Reggio. A valorização do fator humano, o resgate pela infância e o valor dos sentimentos são a meta para um trabalho de humanização dentro da escola elementos que sustentam a base do trabalho, o sentimento de pertença, a segurança e a confiança da equipe pedagógica e dos pais uns com os outros impulsionam o desenvolvimento, a criatividade e a aprendizagem das crianças e dos adultos pois lá o lema é aprender juntos.

A proposta deve ter valores claros definições ideológicas que proporcione espaços de encontros criando possibilidades culturais, evidenciar a liberdade de apreciar o que se tem e não estimular a comparação com o outro pois isto traz a infelicidade. A confiança mutua e o sentimento de pertença ao grupo são fatores imprescindíveis para que se aprenda junto.

Na escola em geral, construímos muitos muros e poucas pontes.





Idéias que transformam as práticas educativas.



Após a palestra de Alfredo as escolas associadas à redsolare da Argentina mostram as documentações realizadas, de maneira objetiva se focam em um ponto especifico ou em documentar o percurso do projeto.



Documentação 1

Eu e minha sombra: a sombra descoberta por um menino e uma menina durante suas brincadeiras no pátio, fotos revelam as infinitas possibilidades experimentadas pelas crianças durante a descoberta com uma música linda no fundo narrando os fatos: aonde ele vai a sombra vai, nunca me larga, às vezes pequena, às vezes grande etc.... LINDO... Crianças de 1 anos e meio.



Documentação 2

Documentação das observações e expressão realizada com bebês que engatinham. Os bebês foram expostos a um novo piso feito com as fotos de todas as crianças do grupo, durante as observações foi possível documentar as relações de carinho, de descoberta de si na foto e no espelho, manifestações de carinho com beijos, e diversas formas de se observar, as crianças se deitavam sobre as fotos, se viravam para observar-se de vários ângulos e o mais impressionante um dos colegas tinha uma deficiência e uma saúde frágil durante um período ficou afastado da escola, as crianças olhavam para a foto dele como se quisessem matar a saudade, davam beijos e deitavam-se como se quisessem abraçá-lo. LINDO.



Documentação 3

A documentação apresentada com crianças de 2 anos pretendia verificar como as crianças reagiam ao espaço previamente organizado com desafios pelo professor, registrando o valor aos espaços de descobertas. As professoras organizaram túneis com fitas, caminhos diversos, caixas texturizadas, cortinas de fitas e balões nas pontas, sala com vários tecidos pendurados no teto formando um emaranhado etc.... O projeto chamava-se AVENTURAS DIVERSAS e foi documentado da seguinte forma: parte 1 – O que gostam? O que sabem sobre os espaços e de que forma torná-lo desafiador para as crianças. Parte 2 criando desafios, encantando, estimulando, possibilitando novas experiências, inventando espaços diversos.

Parte 3 – momento de reunir materiais, mostrar e refletir sobre o vivido, observar e trocar experiências.



Documentação 4

Crianças de 4 anos projeto se buscam duendes a documentação começa mostrando as fases do projeto primeiro o levantamento feito pelo professora sobre o que sabiam e o que gostariam de saber sobre os duende, depois a investigação coletiva, o encantamento, confirmações cientificas, e embasamento teórico sobre o assunto pesquisado coletivamente, por fim as conclusões do grupo registrando as falas, os trabalhos das crianças, as produções literárias, a participação dos pais na confecção das fantasias de duendes, as falas das crianças sobre o que fariam se fossem duendes, troca de experiência interna e exposição dos trabalhos na seqüência. Com este projeto a professora conseguiu estimular as inteligências múltiplas, contemplar o currículo, ter a participação dos pais, fazer produções literárias e artísticas e só conseguiu tudo isto porque todos participaram do projeto o sentimento de pertença estava intrínseco desde o inicio do projeto. Envolver as crianças de maneira prazerosa possibilitando a todos construir o projeto dando vez e voz de autor e autores esta é a proposta de Reggio que embasada na neurociência acredita que a aprendizagem acontece no cérebro das pessoas a partir de estímulos neurais e na liberdade de apreciar o que se tem e não comparar-se com o outro, confiança mutua no professor e sentimento de pertença ao que se esta fazendo, construindo a idéia e não somente participar dela, aprendendo juntos no caminho,respeitando e responsabilizando os participantes autores e protagonistas do projeto.





Rol do Atelerista - um espaço que inventa...

Quem é o Atelerista? È um professor que......



Valoriza as produções das crianças.

Observa as descobertas

Instiga as crianças a utilizarem várias técnicas, respeitando o tempo de cada uma.

Organiza os espaços e proporciona diversidade de materiais para serem explorados.

Não se preocupa com as manchas, dá o direito para as crianças experimentarem, valoriza as manchas e as misturas.

Entende que quando derrama um copo de tinta ou água, não se levanta é uma nova expressão artística.

Entende que cada traço é traço, pequeno ou grande, não compara, não tenta entender e ou questionar se a criança acabou se quer pintar mais, se ela quiser pinta!

Trabalha a conscientização da importância das crianças experimentarem os materiais e possibilita a participação deles no atelier.

Organiza mesas diversificadas com pequenos grupos.

Tem ética em relação aos trabalhos das crianças sendo fiel a realidade.

Utiliza espaços livres, fechados tem a visão de que todos os espaços podem ter valor artístico e educativo.

Não fazer modelos, não mostrar como se faz deixar as crianças utilizar os recursos propostos a sua maneira.

Deixar o uso dos materiais propostos livre, sem restringir, definir, negar.

Não há obrigações, nem normas, nem horários.

Constrói vinculo ao compartilhar as atividades, em confiar e envolver as crianças criando situações de aprendizagens, dando sentido a as experimentações artísticas das crianças.

Rompe estereotipo.

Esquece o produto final se foca no processo.

Respeita o tempo das crianças que não tem pressa.

Instiga as crianças a pesquisarem os materiais com o corpo. Ex: mãos no óleo e no papel, na mesa, no corpo, no espelho, na cabeça ....

Não pergunta o que é....porque sabe que é tudo e nada ao mesmo tempo, entende que estão investigando a técnica.

Organiza o atelier com materiais concretos para a experimentações serem aplicadas em diferentes formas nas obras realizadas que pode ser: café, escova, tampas, pano, rolhas etc....

Estimula movimentos cromáticos e sensoriais, com rolos, escovas, água, massa, pigmentos diversos, colorantes etc...

Entende que devido a regras e deformações escolar perdemos estes momentos , estas observações por rótulos culturais, por concepções de limpo e sujo tiramos o direito das crianças de experimentarem o todo das coisas. A cultura e o contexto cultural que valoriza o fim “ o produto” e não o caminhar e o sentido e sentimento de pertença nas coisas e no mundo não fazem parte da cultura do atelerista.

Ele não tem medo de equivocar-se experimentar a aventura como oportunidade de aprender junto com as crianças.

Observa as crianças para ampliar o seu repertorio de intervenção.

Documenta o que acontece no atelier aumentando seu rol de possibilidades.

Ele não ensina mas cria condições de aprendizagem.

Adota a política da felicidade em ter no atelier um trabalho que dá sentido a vida dentro e fora da escola beneficiando-se de todos unindo família e escola.





Documentação do Atelerista 0 - 3 anos



A proposta era de construir um Atelier, pintando painéis coletivamente com as famílias em horários que quisessem e pudessem. Cada duas famílias teriam um quadro para produzir e se organizariam para confeccionar, pintar, investigar técnicas, tintas. Nesta investigação e produção desfrutaram de momentos únicos com seus filhos, trocaram experiências com as outras famílias, compartilharam o mesmo pincel, levaram o irmão para ajudar, se ajudaram e finalizaram o trabalho que sozinho não conseguiriam, descobriram que existe momentos em que criança observa e também aprende e em outros participa .

O atelerista possibilitou o espaço e o sentido da ação, a companhia instigou o objetivo do atelier e criou nos pais o sentimento de pertença ao projeto. Os pais terminaram os quadros e a curiosidade dos outros possibilitou uma exposição, uma festa de inauguração, deram entrevistas de como era aprender e pintar quadros com a técnica de pintura a óleo coletivamente, os pediatras ficaram curiosos com as histórias contadas e quando os quadros ficaram prontos também quiseram conferir, por fim decidiram colocar os quadros no refeitório e nos corredores para que todos pudessem ver.

As trocas, as observações o respeito ao tempo de cada um, o compartilhar tempos na vida, envolve e confiam as famílias que valorizam o trabalho da escola e dos professores criando vínculos imensuráveis.

A neurociência comprova que quando as crianças observam, ativam os mesmos neurônios de quem esta fazendo. Portanto mesmo quando não estavam cortando ou pregando os quadros observavam as técnicas utilizadas pelos seus pais e estimulavam os mesmos neurônios em seus cérebros. Aprendendo juntos!!!!



Conclusão

“Passar o dia no Aletheia reforçou minha percepção das idéias de olhar ativo e escuta ativa”



O trabalho desenvolvido na Escola Aletheia tem muitas coisas em comum com o que podemos observar por muitas escolas criativas. Várias características podem ser observadas nos detalhes dos trabalhos, na estética, nas fotos, nos informativos, porém na essência ainda temos um caminho longo a percorrer desafios que não serão obstáculos se conseguirmos percorre - lo unidas aprendendo umas com as outras.

Objetivando uma postura clara sobre o sentido da infância, a forma de conduzir os projetos, a responsabilidade de documentar e acima de tudo a humanização e a ética umas com as outras. Participar de formação docente para que garantir e contemplar as centenas de linguagens e acima de tudo conquistar o direito de ter vez e voz para construir os projetos, estimular o sentimento de pertença nas crianças e nas famílias, valorizar o que se tem ao invés de comparar-se, ser responsável pela organização dos espaços, ser autor e protagonista de seus projetos, aprender em equipe, confiar uns nos outros, potencializar a participação das famílias, respeitar-se e respeitar crianças e adultos igualmente.

Direcionar nossas escutas e nossos olhares para encaminhar projetos ricos. Constatar que os registros, as fotos são parte do processo de construção do conhecimento e não um mero trabalho para expor ou uma prestação de contas entre a Escola e os pais.

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